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Vitamina A e o Desenvolvimento do Bebê no Útero

Screen shot 2009-11-17 at 7.35.18 AMNessa semana que passou recebi uma ótima (e assustadora) notícia de uma amiga muito querida. Que ela estava grávida nós já sabíamos, e aquela gravidez “como manda o figurino”, cheia de enjoos, sono e muito mal estar. Como ela me dizia nunca ter sentido na gravidez do primeiro filho. E não sentiu mesmo, porque agora é tudo em dose dupla, ela está esperando gêmeos!!

Quando eu engravidei do meu filho, era meu pavor: ficar grávida de gêmeos! Eu acho a coisa mais linda de se ver, mas tenho que confessar, o trabalhão que deve dar dois bebezinhos de uma vez só, o peso da barriga com dois bebês lá dentro… Ui!!

Outra amiga minha, que nem engravidar de novo queria e de repente se viu grávida de gêmeos, agora já perto de completarem 10 meses de vida, me contou que, passado o susto, é muito divertido ter dois bebês em casa de uma vez só.

Essa gravidez em dose dupla da G. me fez ter vontade de pesquisar e escrever mais sobre nutrição na gravidez, um assunto que deixa muitas mamães completamente perdidas, mesmo com conselhos médicos e de nutricionistas. O que eu mais vejo hoje são recomendações para a suplementação “disso ou daquilo”, como se antes do advento das vitaminas artificiais, na forma de comprimidos, nenhuma gravidez conseguisse ser verdadeiramente saudável.

Quanto engano!!!!!

O que acontece é que hoje a alimentação das pessoas está cada vez mais longe da COMIDA DE VERDADE. As pessoas cada vez mais comem empacotados, enlatados, congelados, liofilizados, fast food, junk food, etc. Esquecem de coisas simples como um bom bife, ou carne ensopada, frango assado, ovos mexidos, frutas, verduras, legumes, queijos, manteiga fresca, leite DE VERDADE. Para muito hoje, infelizmente, alimentar-se bem significa abrir caixinhas e latinhas com “esta ou aquela” vitamina ou mineral adicionado.

E por que adicional algo que deveria estar no alimento naturalmente? Porque alimentos altamente processados, transformados em produtos alimentícios totalmente desqualificados e desvitaminados precisam ter algo mais. Porque a indústria alimentícia deve saber que todo o processamento destrói os nutrientes do alimento.

Poxa, comer COMIDA DE VERDADE é tão mais fácil!!!

Vou falar hoje sobre a vitamina A. Aliás, não será um texto meu, apenas uma tradução minha de um texto da Mary G. Enig, uma das maiores especialistas mundiais em óleos e gorduras.

A verdadeira vitamina A é aquela que ocorre comente em gorduras animais. Em sociedades primitivas, mulheres grávidas consumiam alimentos especiais, ricos em vitamina A, como fígado, manteiga fresca e ovas de peixes, num esforço consciente de gerar crianças saudáveis e bem formadas. As pesquisas atuais validam totalmente tais tradições.

Em um recente publicação,1 Maija H. Zile, do Departamento de Ciências Alimentares e Nutrição Humana (Department of Food Science and Human Nutrition), da Michigan State University, detalha a importância da vitamina A do desenvolvimento fetal. Trabalhando com embrões de aves e ratos, ela e outros pesquisadores determinaram que a necessidade de vitamina A começa no momento da formação dos tecidos primitivos do coração e circulação, e o desenvolvimento da parte posterior do cérebro, um período que corresponde a 2 a 3 semanas de gestação (a partir da concepção). Sem vitamina A, o embrião corre o risco de graves anormalidades no coração e provavelmente será naturalmente abortado.

Cada sistema do corpo humano começa seu desenvolvimento em uma certa janela de tempo durante a gravidez. A vitamina A regula a diferenciação das células primitivas em células específicas de cada parte do corpo, trocando em miúdos, sinaliza aos genes seu “caminho” até seu lugar certo no corpo e que tipo de tecidos formarão. Se a vitamina A está deficiente em qualquer uma dessas janelas de desenvolvimento, os órgãos podem se desenvolver com deformidades ou, em casos mais graves, não se desenvolver.

Os maiores alvos da deficiência de vitamina A são o coração, sistema nervoso central, sistema circulatório, urogenital e sistema respiratório, além do crânio, esqueleto e membros. A deficiência de vitamina A dutante o período de formação de qualquer um dos sistemas citados acima pode resultar em anormalidades e defeitos de nascença.

De acordo com Zile, mesmo uma pequena deficiência de vitamina A afeta o desenvolvimento sensitivo do sistema nervoso central, que é peça chave no desenvolvimento do sistema visual, retina, ouvido, e toda a área cranio-facial, que inclui também as grandulas tiróide e paratiróide.

Na metade da gestação a vitamina A é necessária para o desenvolvimento dos pulmões do feto. Em animais com deficiências de vitamina A foram observadas má-formações no sistema urogenital.

O mais interessante são as novas pesquisas sobre o efeito da vitamina A no desenvolvimentos dos rins. A deficiência de vitamina A resulta num número reduzido de néfrons nos rins. Menos néfrons nos rins significa que eles não trabalharão em níveis ideais, podendo condenar o indivíduo à diálise na velhice.

Outra linha fascinante de pesquisa concluiu que a vitamina A retém a chave para o que os cientistas chamam de “enigma do santo graal” do desenvilvimento biológico: a existência de um mecanismo que assegura que o exterior dos nossos corpos é simetrico, enquanto os órgãos internos estão organizados assimetricamente. Pesquisadores do Instituto Salk observaram que a vitamina A fornece o sinal que divide as influências dos caminhos assimétricos nos mais iniciais estágios de desenvolvimento, e permite a essas células se desenvolver simetricamente. Na falta da vitamina A, a porção exterior do nosso organismo pode  se desenvolver assimetricamente, com o resultado de que o nosso lado direito pode ser mais curto que o lado esquerdo.3

Após a formação de todos os sistemas de órgãos, a vitamina A provê o seu crescimento. Deficiência crônica de vitamina A durante a gravidez pode comprometer o fígado, coração e rins, assim como atrasar o ritmo de desenvolvimento pulmonar nas últimas quatro semanas de gestação.4

Infelizmente o FDA e outras agências “de saúde” recomendam que mulheres grávidas evitem exatamente alimentos como fígado e óleo de fígado de bacalhau, alegando que esses alimentos contém excessos de vitamina A, o que poderia causar defeitos de nascimento. O estudo geralmente citado para embasar tais afirmações aconteceu em 1995, em Boston (Boston University School of Medicine) e foi publicado no New England Journal of Medicine.5 Neste estudo, os pesquisadores pediram a 22000 mulheres que respondessem a um questionário sobre seus hábitos alimentares e ingestão de suplementos vitamínimcos antes e durante a gravidez. Os pesquisadores observaram que defeitos cranio-neurais cresceram com doses aumentadas de vitamina A; porém defeitos no tubo neural diminuíram com o aumento no consumo de vitamina A e nada foi encontrado em relação a defeitos na estrutura musculo-esqueletal, urogenital e outros defeitos.

Este estudo é um suporte muito fraco para apoiar as afirmações de que mulheres grávidas deveriam evitar comer fígado e ingerir óleo de fígado de bacalhau. Os pesquisadores não fizeram distinção entre vitaminas A sintéticas, presentes em multivitamínicos e alimentos processados como a margarina, e a vitamina A natural, presente em alimentos; e nem ao menos os pesquisadores realizaram exames de sangue para determinar os níveis de vitamina A das mulheres estudadas. Questionários escritos são notoriamente um método totalmente impreciso para se estudar a ingestão de um certo nutriente.

Estudos subsequentes concluíram que altos níveis de vitamina A não aumentam o risco de defeitos de nascimento. Um estudo de 1998 realizado na Suíssa observou a vitamina A em mulheres grávidas e concluiu que uma dose diária de 30.000UI por dia resultou em níveis sanguíneos que não poderiam ser associados a defeitos de nascença.6

Um estudo de 1999 ocorrido em Roma, Itália, não encontrou máformações congênitas em 120 bebês cujas mães consumiram em média 50.000UI de vitamina A por dia.7 Algumas participantes chegaram a consumir mais de 300.000UI de vitamina A diariamente durante a gravidez, sem qu seus bebês nascecem com qualquer tipo de defeito. Uma média de 50.000UI de vitamina A por dia é consistente com nossas recomendações de óleo de fígado de bacalhau  a fim de fornecer 20.000UI por dia, mais vitamina A adicional proceniente do consumo de fígado, manteiga, frutos do mar e gemas de ovos.

Referências:
1. J Nutr. 2001;131:705-708.
2. Nephr Dial Trans. 2002 Sept;17(Suppl9):78-80.
3. www.news-medical.net/?id=9979.
4. Brit J Nutr. 2000 July;84(1):125-132.
5. NEJM. 1995 Nov 23;333(21):1414-5.
6. Int J Vit Nutr Res 1998;68(6):411-6.
7. Teratology. 1999 Jan;59(1):1-2.

Mary G. Enig, PhDMary G. Enig, PhD é uma especialista de renome internacional na área de bioquímica das gorduras.  Ela coordenou inúmeors estudos sobre os efeitos das gorduras trans nos Estados Unidos e em Israel, e alterou com sucesso algumas declarações do governo de que uma dieta contendo gorduras animais cause câncer e doenças coronárias. A recente atenção da comunidade científica e da mídia na possibilidade de efeitos adversos provenientes do consumo de gorduras trans aumentou o inteesse em seu trabalho. Ela é nutricionista, certificada pelo Certification Board for Nutrition Specialists, umatestemunha com conhecimento de base dos fatos, consultora em nutrição para pessoas, inústrias e os governos estaduais e federal dos Estados Unidos. Membro da American College of Nutrition e Presidente da Maryland Nutritionists Association. Ela é a autora de mais de 60 artigos e apresentações técnicas, assim como leituras populares. Dra. Enig está atualmente trabalhando no desenvolvimento de uma terapia auxiliar para AIDS usando ácidos graxos de cadeia média de alimentos integrais. Ela é a vice-presidente da Fundação Weston A. Price e a editora científica do Wise Traditions, assim como autora do livro  Know Your Fats: The Complete Primer for Understanding the Nutrition of Fats, Oils, and Cholesterol, Bethesda Press, May 2000 (ainda sem tradução para o português). Ela é mãe de três filhos saudáveis, criados em uma dieta tradicional à ase de alimentos integrais como manteiga, creme de leite, ovos e carne.

Quem é a Pat FeldmanPat Feldman

Pat Feldman é culinarista, criadora do Projeto Crianças na Cozinha (www.criancasnacozinha.com.br), que visa difundir para o grande público receitas infantis saudáveis, saborosas e livre de industrializados. É também autora do livro de receitas A Dor de Cabeça Morre Pela Boca, escrito em parceria com seu marido, o renomado médico Alexandre Feldman.

19 comentários

  1. Eu assino embaixo.
    Penso assim também sobre a viramina A. Só faço ressalvas, porque as vezes é necessário suplementar na gestação. Se a gestante não tem um bom aporte da vitamina em sua dieta habitual, podemos tentar melhorar a ingestão sim, mas não há muito tempo para “treinar”, então Às vezes suplemento.
    bjs

    1. Francine, suplemento sim, quando necessário, mas na forma de cápsulas de um bom óleo de fígado de bacalhau, que é a versão natural!

  2. Ei Pat! Assino embaixo novamente. Quando suplemento, uso o óleo de fígado de bacalhau de verdade.
    Ah! quando disse que não há tempo para “treinar”, me referia ao curto período da gestação, que nos impossibilita, muitas vezes, de modificar hábitos alimentares, mais profundamente, da maneira ideal.
    Um abração pra você!

  3. Ei Pat!
    Obrigada, querida! Estou precisando ir a SP faz tempo… preciso fazer um monte de coisas aí, inclusive buscar do seu caldo caseiro. Eu faço meus caldos aqui e amo, mas o caldo da Pat é o CALDO DA PAT, né?!
    Meu email é FRANICNESILVA@YAHOO.COM.BR
    Se quiser trocar idéias sobre as assessorias escolares, podemos conversar lá. Hoje memso, estive em mais uma escola para divulgar o trabalho.
    bjs

  4. PAT,
    vc é uma pessoa INCRÍVEL que agradeço a D’us ter conhecido quando amamentava meu primeiro filho, como já disse antes, passei a ser internauta por sua causa já que meus acessos ao seu site são diários e sempre fico curiosa pela próxima matéria! Sempre fui preocupada com a alimentação e tentava manter o mais saudável possível, com meus poucos conhecimentos de culinária e tal, mas vc é e sempre será uma ÓTIMA inspiração! Que me levou a cada vez mais estudar e querer entender sobre os alimentos e combinações favoráveis à nossa saúde.

    Obrigada pelas dicas para esta nova gestação de gêmeos e especialmente pela sua DEDICAÇÃO e riqueza de sua AMIZADE!
    Um beijo e um abraço carinhoso, G. (sou discreta demais…)

  5. Pat, e por falar em óleo de figado de bacalhau natural, estou com dificuldades de encontrar um bom aki em BH. Vc está comprando importado? Tá te custando quanto? pode me passar o contato e a marca?
    Obrigada, gravidinha!
    bjs

  6. Pat,
    Estou pensando em importar pelo correio. É burocrático em que sentido? Além do pagamento do imposto de importação, pedem alguma outra coisa, como por exemplo receita médica?
    obs. adorei a matéria!

    1. Elaine, eu nunca importei via correios – espero ir e trago logo um estoque enooooooooorme!!! Mas parece que alguns pacientes do meu marido mandaram trazer, sem receita, mas pagaram impostos. Vou confirmar direitinho com meu marido como tudo aconteceu e volto pra te contar. Me cobra!

  7. Pat,
    Já encomendei meu óleo de fígado de bacalhau (esse mesmo que você indicou). Tenho expectativa de que a vitamina A desse superalimento fará bem á minha pele. Mantenho uma alimentação super saudável, mas, ainda assim, tenho a pele mais oleosa do que o normal e com isso alguns pequenos problemas com acne. Alguns médicos já me receitaram vitaminas sintéticas (principalmente a A), mas me recusei tomar.
    Checando na internet, me deparei com um uma loja virtual no brasil que vende um óleo de fígado de bacalhau líquido (355 ml) vindo da Noruega (twinlab norwegian cod liver oil) por um preço acessível. Será que esse óleo poderia substituir a emulsão de scott (que está adulterada), já que a importação do fermented cod liver oil é super cara?

    1. Elaine, qualquer coisa com certeza é melhor doque emulsão Scott atualmente!! Mas tente conferir a forma como esse óleo é extraído e conservado, só por garantia! Ah, e para o rosto com acne (eu tive muita) o que me dava jeito era Hipoglós, que descobri a pouco tempo conter óleo de fígado de bacalhau em sua formulação!!

  8. Pat,
    Fiz a encomenda do óleo de fígado de bacalhau no site da Green Pasture. Parece que somente na semana que vem irão enviar (o produto está temporalimente em falta). Ficou em $ 44,00 o óleo + $ 50,75 frete. Desse total deve incidir + 60% de Imposto de Importação e ICMS.
    No site da Green Pasture há uma redução no valor do produto caso a pessoa encomende mais de 6 unidades, e uma outra redução se a pessoa encomendar mais de 12 unidades (de $ 44 para $ 39 e de $ 39 para % 34 respectivamente). Dá para simular o frete também. Encomendar maiores quantidades reduz drasticamente o custo do frete (1 produto $ 50, 2 produtos $ 62, 3 produtos $ 77 etc) de tal forma que importando 1 vidro o custo do frete supera o preço do próprio produto, mas importando mais de 3 vidros, o preço do frete equivale a metade do preço dos produtos.
    Vi na internet que há isenção para medicamentos desde que seja levada receita médica (preenchida com alguns requisitos que não sei quais são) para liberação.
    Mas, aí vem a dúvida: quem está apresentando receita médica realmente está conseguindo a isenção do imposto? Digo isso porque o óleo não é tipicamente um remédio (no sentido alopático do termo).
    Se tiver isenção vou providenciar a receita …

  9. Pat,
    Meu oleo chegou hoje. Nao paguei imposto de importacao, a encomenda chegou direto em casa. Isso apesar de a remessa ter sido atraves de FEDEX (que dizem ser praticamente certo de vir a cobranca do imposto). De qualquer forma, no site da celtic sea salt e possivel comprar o mesmo oleo e eles mandam por correio comum dos Eua (que dizem ser menos provavel de pagar imposto)

  10. Na verdade eles informaram no formulario do FEDEX e na nota (air waybill) o valor do produto como sendo de $ 1,50

  11. Olá. Descobri que estou grávida e fiquei super preocupada pois estava tomando Emulsão Scott há 1 mês, vim direto pesquisar se tinha algum problema com excesso de Vit A. Encontrei esse site que parece esclarecer que não há problemas. Pesquisei a respeito da dosagem para gestantes e uns dizem 3000 UI, outros 4000 UI, outros 10000 UI, fiquei bem confusa, poderia me ajudar a esclarecer?
    Grata

    1. Cristina, recomendo que você converse com seu médico sobre a dosagem mais indicada para você!! Cada organismo é um só, então melhor conversar pessoalmente com o profissional que te acompanha!

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