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Cremosa e Perigosa – Como a Margarina Pode Prejudicar a Sua Saúde

margarina

Autor: Dr. Alexandre Feldman, médico

Os óleos e gorduras parcialmente hidrogenados não existem na natureza. São produtos da indústria de processamento de alimentos; versões modificadas dos óleos e gorduras naturais.

Na natureza, quase todas as gorduras e óleos possuem uma estrutura, um formato, que recebe o nome de cis. Porém, após sofrerem a ação de um bombeamento de hidrogênio sob alta pressão e temperatura, a estrutura se modifica e essas gorduras parcialmente ou totalmente hidrogenadas passam a receber o nome de trans.

A indústria alimentí­cia adora as gorduras trans. É que os alimentos à base dessas gorduras e óleos hidrogenados possuem um prazo de validade muito maior. Elas se são o ingrediente principal da maioria das margarinas e também entram na composição de inúmeros alimentos industrializados.

Mas no nosso organismo, as gorduras trans que ingerimos são incorporadas nas membranas celulares, provocando alterações na composição dessas estruturas delicadí­ssimas. Além disso, elas adentram as vias metabólicas das gorduras normais, perturbando a função do organismo como um todo.

Muitas funções essenciais do nosso organismo dependem de certas substâncias que controlam os processos inflamatórios e recebem o nome de prostaglandinas. Existem prostaglandinas pró-inflamatórias e antiinflamatórias. Num indiví­duo normal, existe um constante equilí­brio entre elas, de modo que a inflamação possa se manifestar apenas quando necessário para a defesa do organismo. A ingestão de gorduras e óleos trans desequilibra esta ordem, provocando um aumento na ação das prostaglandinas pró-inflamatórias. Tal alteração pode resultar em uma facilidade muito maior para desenvolver toda sorte de processos dolorosos que compreendem estados inflamatórios, desde cólicas menstruais, dores nas juntas, nas costas e, claro, dores de cabeça e enxaquecas.

Estudos demonstram, em animais ingerindo gorduras hidrogenadas, uma diminuição na capacidade das células em reagir com a insulina. Este fenômeno, que recebe o nome de resistência à insulina, resulta num aumento da concentração desta substância no sangue. Quem já leu o meu livro Enxaqueca – Finalmente Uma Saí­da sabe que isso gera, no cérebro, um desequilí­brio nos ní­veis de serotonina, cuja conseqüência é a enxaqueca, a depressão, a ansiedade e o pânico.

Como se não bastasse, a margarina e as gorduras hidrogenadas trans podem elevar o colesterol ruim (LDL), baixar o colesterol bom (HDL), aumentar os ní­veis de uma substância geradora de doenças arteriais denominada lipoproteí­na (a), diminuir o volume e o poder nutritivo do leite materno, prejudicar a resposta imunológica, diminuir os ní­veis de testosterona em animais, inibir a ação de enzimas necessárias ao bom funcionamento das membranas celulares, e prejudicar a incorporação de importantes óleos ômega-3 pelo organismo.

Existem, hoje, milhões de pessoas consumindo, regularmente, gorduras e óleos hidrogenados, sofrendo os efeitos colaterais destes produtos, e simplesmente mascarando os seus sintomas com remédios, sejam eles preventivos ou para crise, ao invés de realizarem mudanças básicas na alimentação. Em todos os pacientes que procuram minha clí­nica com sintomas de dores crônicas de cabeça e uso de analgésicos e antiinflamatórios, uma grande parte obtém melhora significativa quando, através de mudanças alimentares realizadas em reuniões com grupos de pacientes ao pé do fogão, eu corrijo desequilí­brios na composição de óleos e gorduras no organismo desses pacientes, causados, em grande parte, pelo consumo de margarina, gorduras hidrogenadas e óleos e gorduras trans.

Muitas pessoas obtiveram grandes melhoras de quadros como enxaqueca, dores nas costas, cólicas menstruais e artrite, após a retirada total de gorduras e óleos trans da dieta. Algumas destas pessoas já achavam que suas dores eram normais! Mas a verdade é que não existem dores de cabeça normais, nem cólicas menstruais normais e muito menos artrites normais. Fique de olho, pois muita gente simplesmente pensa que ter dor é normal, é simplesmente conseqüência do stress, da idade, ou da falta de algum remédio.

Minha dica deste mês é: seja diligente na eliminação total da margarina e das gorduras e óleos parcialmente hidrogenados da sua alimentação. Após 3 meses, os resultados geralmente são visí­veis e muito gratificantes.

Como conseguir isso?

Leia os rótulos! Todos! Leia-os como se a sua vida dependesse deles. Na verdade, ela depende mesmo!

No iní­cio, você pode levar um susto: a sua primeira impressão poderá ser de que tudo contém gordura hidrogenada. Sinal que você está comendo errado faz tempo! Você poderá encontrar gordura hidrogenada em rótulos de margarinas, batatinhas chips, bolachas, biscoitos, bombons, bolos, pipocas de cinema e em quase todos os lanches da sua lanchonete favorita. A ingestão das gorduras hidrogenadas contidas nestes alimentos contribui para o aparecimento de muitas dores de cabeça da vida moderna.

Infelizmente, os interesses da indústria alimentí­cia resultaram em uma grande desinformação sobre as gorduras que ingerimos. Na prática, a maior parte da classe médica, da grande mí­dia e da população em geral não tem conhecimento do grande número de pesquisas apontando para os efeitos adversos das margarinas e gorduras hidrogenadas. É de arrepiar os cabelos que, em pleno ano de 2004, com tantas informações cientí­ficas à disposição, a maioria dos médicos e nutricionistas ainda considera a margarina como sendo um alimento saudável, e recomenda o uso deste ingrediente no lugar da manteiga para tentar prevenir ou melhorar as doenças do coração de seus pacientes. O fato cientí­fico indiscutí­vel e consumado é que as gorduras trans aumentam o risco cardí­aco muito mais que as gorduras naturais na dieta.

Por essas e por outras, defenda a sua saúde evitando, o quanto mais, que a margarina e todas as outras gorduras hidrogenadas invadam o seu corpo.

Só depende de você!

Mais informações no site www.enxaqueca.com.br

Quem é a Pat FeldmanPat Feldman

Pat Feldman é culinarista, criadora do Projeto Crianças na Cozinha (www.criancasnacozinha.com.br), que visa difundir para o grande público receitas infantis saudáveis, saborosas e livre de industrializados. É também autora do livro de receitas A Dor de Cabeça Morre Pela Boca, escrito em parceria com seu marido, o renomado médico Alexandre Feldman.

55 comentários

  1. Dr. Feldman,

    Muito bom ler o artigo sobre gordura trans e sua forma mais popular, a margarina. Há poucos anos fui despertada para esse problema.

    Confesso que sou do tipo que ainda cede em determinadas ocasiões e não resiste a um bombom Sonho de Valsa, que, como a enorme maioria dos chocolates que estão à venda, contém gordura hidrogenada.

    Adquiri o hábito de ler rótulos, o que é muito importante e também muito frustrante pois o contingente de produtos nocivos ou duvidosos, para nós que somos leigos, é incrivelmente quase 100%.

    O senhor já ouviu falar que na Dinamarca as indústrias alimentícias não podem mais usar gordura trans?

  2. Preciso saber como devo proceder e quais alimentos indicados para tartar do colesterol alto de minha filha de 5 anos.

  3. O artigo realmente é muito bom, mas os consumidores devem estar atentos aos rótulos dos produtos e compararem o que existe nesse produto. Atualmente, e já há algum tempo, a margarina é formulada sem a gordura vegetal hidrogenada ou com um processo novo com a utilização de óleos alternativos como o de palma, isentos de gordura trans. A alimentação é fator decisivo pra muitas doenças, porém existem muitas empresas e marcas diferentes, cada um deve escolher o mais adequado e nas quantidades permitidas, não simplesmente remover uma ou outra fonte alimentar.

    1. Daiane, eu sou a favor sim de remover fontes não naturais, e o outro processo para a margarina, chamado de insterificação, também é bastante prejudicial à saúde. Estou pesquisando a respeito e logo devo publicar um artigo falando do assunto!

  4. Isso que eu ia perguntar. Muitos produtos agora, inclusive a margarina já vem com o aviso: sem gorgura trans. Gostaria muito também de saber como é esse novo processo. Vou ver se acho alguma coisa também…

    Também de vez em quando não resisto a algum chocolatezinho… é “froid”…

    Acho que um grande problema é a desinformação. Por muito tempo fui convencido que a margarina era a que fazia bem e a manteiga era a que dava infarto…Agora já mudei ! hehe

  5. Cara Pat!
    Como sempre vc está escrevendo sobre um assunto ótimo! Com esta nova lei de estar claro no rótulo quanto existe de gordura trans nos alimentos a maioria das marcas de margarina (entre outros alimentos) mudou a sua fabricação, e hoje a grande parte das marcas é isenta de gordura trans, mas sinceramente,eu gostaria de saber que mágica é essa…, eu há algum tempo troquei a margarina pela manteiga, mas manteiga mesmo, sem corantes nem nada artificial… confesso que no começo todo mundo lá em casa meio que travou (principalmente minha mãe :)) Mas qdo eu disse não tem jeito… é manteiga ou nada! hj todos já “acostumaram” com a mudança, e até me confessaram que o bolo fica mais gostoso :) A gente se acostuma a consumir estes produtos, tanto, que nem pensa no mal que eles estão nos fazendo a cada dia… Só pensamos que industrias renomadas jamais poriam seus nomes em risco com produtos que fazem tão mal… é nessas horas que aprendemos a repensar nossos conceitos! Espero que minha revolução na cozinha esteja apenas começando e que eu consiga dar um estilo de alimentação melhor para meu filhote !
    Beijo Grande!

  6. Bem, isto significa que os produtos que declaram conter “gordura vegetal” — que creio ser a gordura parcialmente higrogenada — e que as empresas teimam em afirmar que não contém gorduras trans não deve ser então considerado verdade. É isso?

  7. Dr. Alexandre e Pat Feldman,

    Excelente artigo sôbre o perigo da ingestão das gorduras hidrogenadas e gordura trans, presentes em alimentos industrializados. Vou repassar este artigo para toda a minha família e amigos. Grata. Diva Falcão.

  8. Muito bom, Pat!
    Fundamental numa época em que a manteiga, usada há milênios, virou vilã e esse produto industrializado que não estraga parece o redentor do colesterol

  9. Muito bom seu artigo sobre a gordura trans. Mas como viver sem ela com 2 crianças, onde os amigos , não pensam como nós? Quanto podemos comer de bolachas, sorvetes e outras gorduras trans?

  10. Daiane & Sonia, em priscas eras eu também achava impossível viver sem os industrializados até que a saúde passou do fundo do poço e eu tive que fazer uma escolha – dá para viver muito bem obrigada sem eles. No início a gente se atrapalha um pouco mas depois vai no piloto automático.

  11. Trocar a margarina por maionese ou requeijão light é uma escolha mais saudável?

    1. Eliane, trocar margarina por maionese CASEIRA, feita com ovos frescos e caipiras é uma excelente opção, já o requeijão, principalmente o light, é um produto altamente processado, industrializado, péssima escolha. Trocar margarina por manteiga sim é uma das melhores escolhas!

  12. Bom, uma vez li que se vc deixar a margarina em qualquer lugar com a tampa aberta, pode ser por seis meses ou mais, nenhum inseto vai parar perto dela…nem entrar dentro do pote e ela não vai estragar nem criar mofo..aff..então imagina que coisa boa é a margarina..aqui no interior temos bastante manteiga..natural.abraços

  13. Olá Pat, o que você acha da margarina da Becel Pró-Active, aquela com fitoesteróis? Nao consigo ficar sem margarina/manteiga no pao e tenho usado esta…mas lendo seu artigo resolvi pesquisar mais sobre a manteiga…qual você tem utilizado e indica? Obrigada!

    1. Rita, se é margarina, eu não uso MESMO!! Pode ser com fitoesteróis ou qualquer outra coisa que eles queiram ADICIONAR, mas para que usar algo que precisa de adição, quando posso ter algo que naturalmente é nutritivo?

      Eu comro manteiga artesanal orgânica no Parque da Água Branca, aqui em São Paulo, mas em emergências apelo para a manteiga Aviação, da qual gosto muito e que aparentemente (pelo menos está no rótulo) é manteiga pura e não contém aditivos.

  14. Oi Pat….
    Muito bom o artigo!! Realmente, esses produtos industrializados contendo ZERO GORDURA TRANS na embalagem como parte do marketing, são pura enganação, pois eles contém trans, mas “dimensionando” para uma porção, na informação nutricional, a quantidade fica mínima, ficando considerada como ausente. O problema é a falta de informação dos consumidores, que não possuem o costume de ler a informação nutricional.
    Estou no início da faculdade de Nutrição, e discutimos sobre a margarina. Fiquei interessada ao saber que estás estudando a questão da interesterificação, pois na teoria, se ela sofre hidrogenação total e é “misturada” à um óleo, não deveria nos causar danos.
    Boa sorte na sua pesquisa!!!

  15. gostaria da exemplificação da reação da margarina
    seria uma boa ajuda
    parabéns pelas informações,são claras e objetivas.

  16. A manteiga também é tão prejudicial a saúde quanto as margarinas e sua gordura trans, pois é rica em ácidos graxos saturados causadores do aumento do colesterol total, pricipalmento do LDL(colesterol ruim).

    1. Caro José, sugiro a você que leia o texto sobre colesterol, com embasamento científico sério, que já publicamos há algum tempo aqui no site. https://pat.feldman.com.br/?p=41 Qualquer coisa em exagero pode fazer mal, mas a margarina e outras gorduras industrializadas ocm certeza são piores ainda, mesmo em pequenas quantidades.

  17. Olá, Pat

    Gostaria de saber a respeito da margarina Becel. Aquela que diz que ajudar a controlar o colesterol.
    Eu não uso, mas meu marido usa diariamente! Desconfia de que ela seja boa mesmo.
    Não costumo usar nem manteiga, a não ser que seja um ingrediente de alguma receita, como bolo, por exemplo.

    1. Janete, não recomendo nenhuma margarina, inclusive a Becel, que você cita. Ela não passa pelo processo de hidrogenação, e sim insterificação, que e processo diferente, porém é também um processo que altera a molécula do óleo/gordura para uma molécula desconhecida do nosso organismo.

  18. Oi Pat.

    Já existem margarinas que são produzidas sem passar por Hidrogenação nem interesterificação; sendo apenas uma mistura de óleos (Óleo de palma + estearina de palma). Nós utilizamos esse processo na indústria onde trabalho e é realmente seguro e uma opção saudável.

    Abs,

    1. Tati, acredito realmente que a indústria esteja correndo atrás de outros processos que não danifiquem os óleos vegetais, mas o problema está exatamente nisso: o processamento!! Óleos vegetais são em geral extremamente delicados, e deveria não ser processados, ou processados minimamente para que não se oxidem. Mesmo óleos vegetais extraídos à frio, sem nenhum outro processo, se oxidam muito pouco tempo depois da sua extração!

      1. Como funciona essa oxidação?
        Pelo que sei, a margarina praticamente não apodrece. Daqui 10 dias, publicarei uma experiência que fiz com uma becel, deixando-a fora da geladeira. Nem inseto chega perto, nem microorganismos. Margarina é plástico.
        Incrível como algo com aquele gosto ruim e soboso pode ser considerado um substituto para a manteiga, usada há milênios sem problemas até a indústria da margarina resolveu vendê-la como saudável e aumentar seu preço, já que não passava de substituto para a massa pobre, em tempos de indústrias ocupando os campos.
        Equação simples sobre substituição: Se não pode comer manteiga, então não pode comer manteiga. Ponto.

  19. Trocar margarina e manteiga por azeite extra-virgem ou por queijo minas frescal light é melhor opção, para reduzir o LDL?

    Obrigado!

  20. Como se indica um produto que faz bem pro coração como a margarina BECEL sendo que no seu rotulo indica uma quantidade de sodio maior que outras margarinas que não fazem tal propaganda?
    portanto ela faz tão mal quanto as outras.
    (propaganda enganosa)

    1. E o pior: com selo de aprovação da Sociedade Brasileira de Cardiologia!!!!! Isso só mostra o quanto o dinheiro compra tudo……

  21. Oi Pat

    Minha avó fazia e minha mãe faz manteiga com a nata que sobra do leite e sal… fica fabulosa…

    bjo

  22. Eu comia becel antigamente por causa da minha alergia ao leite. Minha mãe detestava, fazia cara feia e dizia que tinha gosto de plástico. Depois parei naturalmente e agora sei que fiz muito bem!
    Como pouco pão (sempre caseiro, integral e naturalmente fermentado *-*) e costumo usar azeite de oliva no lugar da manteiga. Pelo menos azeite é comida de verdade…

  23. Oi Pat! E qual sua opinião sobre o ghee? Ele realmente é bom como dizem? eu fiz hoje para experimentar, mas estou em dúvida em relação aos benefícios que lhe são atribuídos.

    1. Helô, o ghee é bem legal, especialmente pra pessoas com alguma intolerância à lactose ou alergia à proteína do leite, já que seu processo elimina QUASE completamente essas duas substâncias, deixando apenas a gordura do leite. Outra opção similar é a manteiga de garrafa.

  24. Um bom substituto pra esse lixo é o cream cheese que a Pat ensina aqui no site, feito a partir do iogurte natural

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