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Alimentação na quarentena – Dicas para sobreviver

Conforme o período de quarentena em virtude do COVID-19 aumenta, nos vemos mais e mais confinados em casa, e a necessidade de nos alimentar continua, do jeito que dá, do jeito que conseguimos. Criatividade é a palavra chave nesse momento, são incontáveis cafés da manhã, almoços, jantares e lanches, e com a limitação de sair de casa, não dá pra ter todo e qualquer ingrediente que se queira a um pulo do supermercado ou feira – a ideia é ficar em casa o quanto for possível e nem sempre conseguimos ser organizadas e metódicas o suficiente para programar um cardápio, montar lista de compras e seguir tudo isso à risca. Será que alimentação na quarentena é um desafio maior ainda?

Tudo bem relaxar com a alimentação na quarentena?

Ficar em casa por tanto tempo, sem muitas distrações muito menos hora certa para nada nos leva a uma vontade quase incontrolável de comer besteira. O sofá com televisão parece que chama por um pacote de bolachas ou uma barra de chocolate bem doce. A preguiça de lavar louça dia e noite também colabora com a vontade de consumir tudo o mais pronto possível – mesmo que você tenha uma máquina de lavar louça, ela não tira a mesa pra você, não raspa as sobras de comida na lixeira e nem guarda a louça de volta no armário…

Tudo bem comer besteira? Tudo médio, eu diria…

Toda questão tem dois lados, e a alimentação na quarentena não é diferente. Eu compreendo perfeitamente a preguiça de ter trabalho que a gente sente, compreendo que mesmo em casa, a cozinha não é a nossa única ocupação. Muitas de nós seguimos em ritmo forte de trabalho, ainda que de casa, muitas não tem conhecimento ou disposição para cozinhar, e não há nada de errado com isso. O outro lado é o fato já conhecido e amplamente comprovado de que uma boa alimentação colabora imensamente com a boa saúde e um sistema imunológico eficiente.

Se você consegue manter uma alimentação bastante variada e saudável, com muitas frutas, verduras, legumes, carnes, ovos e nada ou quase nada de industrializados, comer uma besteira ou outra de vez em quando não será um problema, e isso vale para qualquer época, não apenas na quarentena.

Você tem muito trabalho a fazer, não é porque está em casa que o trabalho diminui, na maioria dos casos até aumenta, os filhos que estudam o dia inteiro agora estão em casa e precisam almoçar, a sua ajudante de todos os dias está em quarentena… na casa dela, o marido está trabalhando de casa e também precisa almoçar e o seu chefe também quer o seu trabalho enviado em dia. É um ritmo novo e muito louco!

Eu procuro ser uma pessoa otimista e tento enxergar vantagem e aprendizado nas situações mais adversas. Todos têm tarefas a cumprir, mas todos precisam comer, todos precisam de banheiro limpo, roupas lavadas (passadas nem sempre, escolha bem as roupas que vai usar, e você consegue pular essa etapa chata!), então esse é um bom momento para todos aprenderem alguma coisa.

Tem muita coisa que as crianças podem ajudar na cozinha, condizente com suas idades. Colocar roupa na máquina de lavar e depois estender no varal também não é bicho de sete cabeças e passar um pano no banheiro não mata ninguém. Se você é a “sabe-tudo” da casa vai gastar uns dias para ensinar aos filhos que ainda não sabem fazer muita coisa, vai ter que aguentar cara feia de quem acha que não tem nada a ver com isso, mas no fim, com cara feia ou não, as tarefas começam a ser mais bem divididas e todo mundo sai ganhando!

Mas voltemos à comida, que é o meu tema favorito!

Não precisamos ser tão exigentes com a alimentação na quarentena, mas também não precisamos enfiar pés e mãos na jaca e bagunçar todo o bom trabalho que fazemos rotineiramente. Podemos e devemos usar esse período em casa para ensinar os filhos a cozinhar algumas coisas básicas, ganhar noções culinárias, aprender receitas simples e do bem, porque um dia eles vão sair de casa e se não tiverem noção do que fazer numa cozinha, o trabalho de uma vida inteira terá sido em vão – eles vão apelar para industrializados e estragar tudo de bom que comeram a vida toda!

Eles aprendem receitas adequadas a cada idade, aprendem que não precisam ter medo de faca, forno e fogão, mas que precisam respeitar e usar com cuidado porque caso contrário podem se machucar muito.

Comida saudável faz menos sujeira!

Você já parou pra pensar que as porcarias mais deliciosas dão um trabalhão pra fazer e limpar depois? Uma vez que você se aventure a fazer hambúrguer com batata frita em casa, e aquele arroz com feijão, carne de panela e salada vão parecer a coisa mais simples do mundo, mesmo que você não seja um ás da cozinha! Se você já tentou fazer hambúrguer em casa, sabe direitinho do que estou falando, o cheiro fica pela casa toda, o fogão e o chão em volta ficam completamente engordurados e lavar a grelha ou frigideira é uma tortura. Já o arroz com feijão não espirram nada, não deixam nada além de um leve aroma agradável pela casa, e a panela de feijão é bem mais fácil de lavar que a frigideira do hambúrguer.

E salada então, que nem panela suja!!! E tem tantas saladas tão deliciosas pra preparar, saladas que valem por uma verdadeira refeição!!

Pode fazer um bolo ou um docinho para o lanche ou sobremesa um dia ou outro. As crianças em geral se atraem por preparar essas gostosuras, e até disso você pode tirar proveito para ensinar: escolha uma boa receita e peça (exija) ajuda para preparar e para limpar depois.

Faça ser um jogo, faça ficar divertido!

Aproveite os livros de receita que você tem em casa, compre novos e-books (vantagem nessa hora, você os recebe imediatamente), pesquise receitas na internet, teste receitas sem medo de errar.

Proponha desafios e condições: o jantar só será servido quando a louça do almoço estiver lavada e guardada, escolha um ingrediente da despensa ou geladeira e vamos achar uma receita bem gostosa com ele, vamos achar um jeito de aproveitar o que sobrou do almoço no jantar sem parecer que estamos comendo a mesma coisa, vamos ver quem arruma a mesa mais bonita, vamos juntos aprender uma receita nova, etc.

Faça a alimentação na quarentena virar um jogo divertido e instrutivo!

A hora de comer

É importante manter um ar de normalidade em meio ao caos, então é importante valorizar o momento da refeição. Nada de sentar no sofá e beliscar qualquer coisa. Façam uma mesa bonita e sentem-se em família à mesa para uma gostosa refeição.

Deixem os eletrônicos de lado e conversem sobre qualquer coisa, eventualmente animem a refeição com um fundo musical agradável. Se você mora numa casa com quintal ou tem uma varanda gostosa no apartamento, faça algumas refeições ao ar livre ou na varanda. Se tiver flores e folhagens no jardim, apanhe um pequeno arranjo para enfeitar a mesa.

Compras durante a quarentena

É fato, nós não estamos sem comida no mundo, apenas estamos saindo menos. Por aqui fizemos algumas compras extras, inclusive de itens que não consumimos com frequência, mas que podem ser úteis caso, por alguma razão muito extraordinária, sejamos impedidos completamente de sair de casa.

Itens não perecíveis como arroz, feijões, grão de bico, lentilhas, atum em lata e massas eu comprei um pouco a mais do que costumo comprar. Verduras e legumes congelados não são meus favoritos, mas na emergência de ficar sem feira, mantém minhas refeições coloridas e nutritivas.

Minhas saídas semanas têm sido para ir a feira, bem cedo, quando está mais vazia e é possível manter o distanciamento necessário nesse momento. Lá eu me abasteço de verduras, legumes e frutas frescos, consigo queijos e ovos também.

Enquanto as feiras estiverem acontecendo, vale muito frequentá-las. Vá sozinha, cedo, quando o movimento em geral é menor e mantenha distância segura de outras pessoas nesse momento (essa parte eu acho muito chata…). E como agora não é hora de fazer feira em família, no dia anterior ou antes de sair combine com todos da família o que será comprado, pensem em receitas que querem preparar para saber o que comprar.

Quem for mais organizado que eu, já monta o cardápio da semana e compra ainda mais certinho o que vai usar. Acho que é importante todos participarem, pelo menos um pouquinho, da escolha do que será comprado e preparado. Ajuda a querer comer melhor!

Alergias e intolerâncias

Se alguém na casa sofre com alergias e intolerâncias o cuidado com a alimentação na quarentena deve ser dobrado. O que você menos precisa é de uma crise que te leve a um hospital! Respeite qualquer restrição alimentar que possa lhe causar problemas de saúde e se prepare para estocar um pouco mais daquilo que você (ou alguém da casa) possa comer sem ter problemas.

Eu não sei cozinhar!

Se você pensa que só vai sobreviver se tiver sua cozinheira de volta ou se gastar um bom dinheiro com delivery, eu sugiro que pense melhor, se dê uma chance de aprender a cozinhar.

Comece com receitas simples e sem medo de errar. Se você errar, o pior que pode acontecer ficar ruim, e aí você já aprendeu como NÃO deve fazer das próximas vezes. A necessidade é uma boa razão para um esforço que de outra forma você não faria. Mãos a obra, sem medo, e convide a família para participar!

Se você quer mesmo comprar comida pronta, sugiro que procure os excelentes pequenos produtores que venho recomendando no Instagram do The Bazaar Food, evento gastronômico dedicado a aproximar os melhores produtores artesanais do público final. Por motivos óbvios o evento físico não ocorrerá até segunda ordem, mas o pessoal segue produzindo e precisa demais das vendas on line.

Conclusões…

Alimentação na quarentena não precisa e não deve ser ruim

Peça ajuda da família

Todos podem aprender a cozinhar

Dentro de uma rotina saudável, não tem problema uma besteira de vez em quando, respeitando é claro alergias e intolerâncias

Pesquise novas receitas

Não tenha medo de errar

Compre do pequeno

Curta sua casa, sua família e sua cozinha

Faça todas as refeições em família, em uma mesa bem arrumada

Comer bem fortalece o sistema imunológico

Quem é a Pat FeldmanPat Feldman

Pat Feldman é culinarista, criadora do Projeto Crianças na Cozinha (www.criancasnacozinha.com.br), que visa difundir para o grande público receitas infantis saudáveis, saborosas e livre de industrializados. É também autora do livro de receitas A Dor de Cabeça Morre Pela Boca, escrito em parceria com seu marido, o renomado médico Alexandre Feldman.

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