AMIGOS Dra. Relva (Thelma B. Oliveira, pediatra)

Criança é o Pretexto da Pediatria

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Sem comentários. A Dra. Relva já mora no meu coração!!

por Dra. Relva, Pediatra Radical

Quando a mãe chega ao ambulatório ou consultório, o “setting” se arma em torno da criança, mas quase que se pode ver a família inteira entrando pela porta. Pois aí a mãe começa a desfiar os desajustes com a sogra, a incompreensão das cunhadas, o pé chato do tio, o receio de o bebê ficar com algum defeito de família, as recomendações das duas avós…

Quando ela diz que seu garoto de dois anos “não come”, o pediatra gela na cadeira, pois isso pode ter as mais variadas interpretações: o bebê não é mais um lactente e prefere explorar o ambiente; seu interesse por comida não é mais absoluto, já que ele tem novas coisas a aprender. Se ela diz que ele “come pouco”, é comparando a capacidade gástrica do bebê com a de um adulto. Ou ela correlaciona comida com privação afetiva sofrida na infância. Ou com medo de estar causando a morte do filho se não o empanturrar. Ou ter ouvido dizer que alguém na família passou privação na guerra e ninguém podia deixar nada no prato. Pode até acontecer de ela ter sido forçada a comer quando criança, sob os olhares ameaçadores do pai. Ou ter sido obrigada a comer miolo de boi, porque sua mãe achava que era bom para a saúde, mesmo não sabendo explicar por quê.

Quando pergunta se “mel é bom para peito cheio”, não espera sua resposta; ela oferece a receita pronta de um xarope caseiro. Diz que tem medo de sereno, mas fuma dentro de casa ou deixa as visitas fumarem. Tem medo pânico de tosse, porque perdeu avó com tuberculose, na década de 40, em Belo Horizonte. Quando diz que “ele não dorme”, demora a admitir que a casa é barulhenta, que a TV fica ligada até tarde, que os adultos jogam à noite e falam alto, que o menino não tem rotina para dormir. Ou não aceita que ele ainda é um bebezinho e não adquiriu ritmo de sono noturno.


Quando diz que a criança “parece que vai ter febre” ou “acho que a testa tá quentinha”, você chega lá de madrugada e encontra a criança brincando. Se o pediatra suspeitar de “virose” e pedir observação por dois ou três dias, ela volta triunfante: – Fui a outro pediatra e ele me disse que é RO-SÉ-O-LA! Quando você explica que roséola é o mesmo que o exantema súbito da suspeita inicial, ela pergunta: porque você não me avisou ANTES? Quando você acaba de examinar a criança inteirinha e viu que está tudo bem, ela fulmina com a pergunta: – Tem certeza que NÃO É GRAVE MESMO? E deixa aquele desafio no ar…

Se você procura dar explicações sobre as fases do crescimento, como intervir ou como deixar pra lá, ela rebate: – Não gosto dessas manias de psicologia. Quando ela pergunta sobre certo tipo de leite ou comidinha, é que ela JÁ ESTÁ OFERECENDO. Quando pergunta se não é melhor um antibiótico “mais forte”, é que ela desconfia de você. Quando ela diz: – será que não é verme? “É que ela TEM CERTEZA que é”. Quando você faz explicações didáticas sobre a conveniência de dar ou não vacinas, ela é curta e grossa: – VOCÊ GARANTE QUE ELE NÃO VAI TER MENINGITE?

A criança é um detalhe no meio de suas convicções, que oscilam entre apelos às crendices e rezas e o sonho tecnológico de mandar fazer TODOS OS EXAMES: – Será que ele não precisa de uma endoscopia ou tomografia? O golpe de misericórdia é quando ela pergunta: – Você não passou o remédio “x” porque não conhece? A gente respira fundo e responde com a calma possível: – Não, é que conheço demais.

Tomar conta de criança é uma tarefa doméstica demais para ser confiada a especialistas. Então, o pediatra tem que se virar nos trinta, para aprender a ser conselheiro matrimonial, psicólogo e /ou psicanalista, o oráculo de Delfos, cartomante ou futurólogo. Enfim, a mãe espera que ele ou ela seja capaz de prever o tempo, conheça tudo de culinária para bebês, saiba todas as marcas de fraldas e sabonetes infantis. Que tenha um HD de 100 gigabytes, um coração do tamanho do mundo, uma memória de elefante, uma agenda ilimitada, o celular ligado durante os fins de semana, que não sinta sono, nem fome nem sede e que “além de tudo” seja a SUPERNANNY!


Quem é a Pat FeldmanPat Feldman

Pat Feldman é culinarista, criadora do Projeto Crianças na Cozinha (www.criancasnacozinha.com.br), que visa difundir para o grande público receitas infantis saudáveis, saborosas e livre de industrializados. É também autora do livro de receitas A Dor de Cabeça Morre Pela Boca, escrito em parceria com seu marido, o renomado médico Alexandre Feldman.

1 comentário

  1. Adorei!
    Mas aproveito pra deixar uma sugestao de artigo, com sua opiniao sobre vacinas. Sou muito desconfiada sobre isso, tenho muitas duvidas. Alias, essas “campanhas de vacinacao” que existem no Brasil, onde praticamente “obrigam mentalmente” os pais a levarem seus filhos e expo-los a um virus ao qual ja’ foram vacinados anteriormente… e’ dificil de engolir!
    Uma funcionaria do posto de saude, ha’ mais de 1 ano atras, tentou me convencer a vacinar-me contra Rubeola, porque havia uma campanha do governo. Mas eu ja’ tive rubeola, sou imune! Se sou imune, porque injetar o virus no meu corpo de novo? Nao cai’ nessa!
    Agradeco se alguem puder me explicar sobre isso! Abracos!

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