Como pais zelosos que somos, temos a tendência de controlar obsessivamente o que nossos filhos comem ou não, e eternamente nos lamentar por aquilo que gostaríamos que eles consumissem e não consomem. A maior reclamação que escuto por aí diz respeito a crianças que não comem saladas e verduras em geral de maneira nenhuma. Os pais enlouquecem com isso! Mas, verdade seja dita, há uma razão maior pela qual as crianças não são apaixonadas por brócolis ou alface, e isso não é sua culpa!
Crianças em fase de crescimento precisam de muito mais do que verduras, elas precisam de alimentos densos em nutrientes, e precisam sim de alimentos mais calóricos (o que não significa que precisem de docinhos e salgadinhos, viu!). Isso porque em geral as crianças se mexem muito mais do que adultos, crescem muito mais que adultos e estão em pleno desenvolvimento físico e mental. Na medicina chinesa sabe-se que as crianças nascem com um sistema digestivo fraco, então parece fazer sentido o fato de que durante os primeiros anos de formação as crianças precisem de alimentos mais fáceis de digerir do que uma couve de bruxelas.
Os adultos (em geral já com a saúde e o estilo de vida não tão bons) podem se beneficiar das propriedades desintoxicantes e hidratantes das verduras e normalmente têm também o metabolismo mais lento, mas a digestão mais eficiente do que quando eram jovens. Então enquanto papais, mamães e adolescentes se dão bem com um pratão de verduras com alguma proteína e gordura, crianças pequenas não precisam de porções tão grandes assim de verdura para estarem bem nutridas.
Ué, então o que será mais indicado para crianças pequenas?
1. Gorduras Saturadas
Apesar de toda a demonização em torno deste nutriente, as crianças precisam de gordura saturada e colesterol para um desenvolvimento cerebral e neurológico adequado, além da saúde dos tecidos e membranas celulares, excelente sistema imunológico, e dentes e ossos fortes. As crianças deveriam ingerir lácteos integrais (crus e orgânicos, de preferência), carnes e ovos de animais criados soltos. E veja a observação fundamental: devem vir de animais criados soltos – isso faz toda a diferença! No caso de fontes animais, é mais importantes que sejam criados soltos do que serem orgânicos. Além disso, nozes e castanhas devem ser consumidas, além de abacate e óleos como o de coco e o azeite de oliva extra virgem (este último sem jamais aquecer). Gorduras tradicionais como a banha, desde que artesanal e não hidrogenada também são super saudáveis quando provenientes de animais criados soltos.
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2. Caldos Caseiros
Caldos caseiros são alimentos riquíssimos em nutrientes que beneficiam a saúde das crianças (e dos adultos!) muito mais que uma folha de alface ou uma fatia de abobrinha. Para a sociedade moderna, acostumada a cubinhos e pozinhos, falar em um caldo feito à base de ossos, carnes, legumes e ervas aromáticas pode parecer estranho e trabalhoso, mas ele nada mais é do que aquele sopão de restos e ossos que as vovós e bisavós sabiamente tinham sempre no fogão. Os caldos podem ser de carnes, aves (frango caipira ou pato ou peru), peixes ou outros ossos. Os minerais, e a gelatina dos caldos caseiros promovem o desenvolvimento apropriado dos ossos e dentes, assim como colaboram para a saúde dos cabelos, unhas e juntas. Os caldos caseiros também são ótimos para resolver problemas digestivos, alergias alimentares e saúde imunológica. É um super remédio para problemas digestivos infantis assim como um ótimo remédio para gripes e resfriados – nesse caso, especialmente o caldo de galinha caipira.
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3. Alimentos Fermentados
Alimentos fermentados nem sempre significam alimentos estragados ou podres. Dependendo do tipo de bactéria que fermenta um alimento – as bactérias “do bem”, ou lactobacilos, ou as bactérias “do mal”, ele pode nos fazer muito bem ou muito mal. Em diversas culinárias tradicionais há a presença de alimentos fermentados: conserva de gengibre no Japão, kimvhi na Coreia, sauerkraut ou chucrute na Alemanha e, o mais conhecido, o iogurte em diversos países mediterrâneos. Os alimentos fermentados são ricos em bactérias probióticas, que oferecem às crianças (e adultos) uma grande variedade de benefícios à saúde, populando nossos intestinos e o organismo todo com bactérias do bem. Alimentos e bebidas fermentados são deixados azedar ou fermentar naturalmente, o que aumenta seu valor nutricional, ativa enzimas importantes e faz com que as refeições sejam mais fáceis de digerir. Os alimentos fermentados nem sempre são apreciados nas primeiras tentativas. As crianças em geral têm uma certa resistência ao seu sabor azedinho, então comece aos poucos, com poucas quantidades do fermentado bem misturados ao resto da comida. O iogurte, batido ou não com frutas frescas, pode ser um bom início no mundo dos alimentos fermentados. As bebidas fermentadas também podem ser divertidas. E se você colocar o seu filho para ajudar no preparo dos alimentos fermentados, as chances dele querer provar aumentam ainda mais!
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4. Alimentos de Época, de Produção Local
Agora que você já sabe que não precisa perder o sono por conta da falta de verduras na alimentação do seu filho, relaxe e tente fazer o consumo de verduras ser saboroso e divertido – sim, porque as verduras podem não ser absolutamente essenciais na infância, mas seu consumo é um bom hábito para a vida toda, então não custa nada começar desde cedo.
É uma boa atitude você acostumar seus filhos a frequentar feiras livres, especialmente as feiras orgânicas, de preferência com produtores locais. Além da vantagem (ENORME) de evitar os montes de pesticidas nos alimentos, vai ser nas feiras orgânicas que seu filho vai aprender, mesmo sem perceber, a época de cada alimento, o verdadeiro sabor das frutas, verduras e legumes. Tudo muito fresquinho e saboroso!
Se você tiver espaço (e nem precisa muito) e disposição, monte uma mini horta em casa, ou no mínimo cultive um ou dois vasinhos com ervas aromáticas. E coloque as crianças para regar as plantinhas diariamente. Aproxime seus filhos da comida de verdade, de como ela é produzida.
Se tiver oportunidade, visite uma fazenda de produção orgânica. Eles vão AMAR o passeio. Aqui pertinho de São Paulo eu visito frequentemente a Fazenda São José, que oferece um delicioso café da manhã orgânico com passeio um domingo por mês. Fique de olho nas datas!!
Ótimo artigo. Meu bebê de 10 meses come iogurte kefir e nas papinhas já estou fazendo o caldo de carne. O caldo já fica pronto para o consumo, certo? É que eu faço as papinhas uma vez por semana, congelo e quando vou aquecer eu coloco uma colher do caldo para ficar molhadinha. Pode ser assim? E acrescento tb uma colher de manteiga, ou óleo de coco ou azeite (vou revezando) e no almoço coloco tb uma gema de ovo. O que acha?…obrigada!…bjss
Me parece tudo lindo, Michele!! Parabéns!!
Que alegria….mto obrigada! Graças a vc estou surpresa comigo mesma….rss…bjss
Pat, é tão dificil conciliar isso tudo. Confesso que não tenho e acho que nunca terei a habilidade dos avós de bem antigamente…Acho que talvez nossos filhos gripam muito, tem algumas alergias aqui e ali, sistema imunológico baixo por falta de toda essa riqueza que você citou. Mas é praticamente impossivel fazer tudo isso. Comer carnes de animais soltos? Onde saber disso?
Não chego nem perto de tudo isso, mas prezamos muito uma alimentação sem muitas guloseimas, com coisas mais naturais, sem muito conservante, sem muitos produtos congelados, produtos com muito corante etc etc etc…
Maria não ama, mas come uma variedade grande de verduras e legumes, frutas também… Não tão como gostaria, como você citou no inicio do texto, mas me orgulho, pois vejo criança comendo apenas arroz , feijão, frituras e pronto. É o que elas querem e os pais “obedecem”…
É um trabalho sim chegar onde cheguei e sem perfeição, mas nos nos orgulhamos sim…
Agora mesmo, tentando melhorar nossa alimentação, estava aqui fazendo um molho de tomate caseiro. Sem conservantes e com condimentos nossos… É pouco? Pode ser, mas é muito diante de tanto conservante, gordura hidrogenada, açúcar desvairada que todo mundo anda comendo e não quer saber de melhorar…
Vamos levando e tentando melhorar como que temos em nossas mãos!
:)
Beijos grandes
Tê, Bolhinhas de Sabão para Maria
Teresinha, nada que a gente faça é pouco, mas é aquilo que conseguimos. Com calma e perseverança, podemos tentar fazer um pouquinho mais a cada dia, até que aquilo que parece pouco, já vira muito!
Ótimo artigo Pati, adoro suas dicas! Sabe me dizer se a banha da Sadia é hidrogenada? Tenho feito pães sem glúten e utilizado a banha como gordura! Se a banha da Sadia for “do mal”, tem alguma marca para indicar ?
Parabéns pelo seu trabalho :)
Priscila, me parece que já vi escrito na própria embalagem que essa banha é hidrogenada sim. Eu compro banha na feira, de produtores artesanais. Não é muito fácil de achar.
Conto com as maravilhosas dicas de alimentação para bebês e toda a família desde o orkut e início deste site.
Hoje minha filha está com 8 anos, muito saudável, disposta a provar sabores diferentes e muito satisfeita com a comida que habitualmente comemos.
Sempre grata!
Pat tenho muitas dúvidas em relação ao azeite extra virgem… Inclusive me lembro de ter visto outros blogs de alimentação saudável defendendo o uso dele para refogar… Por que vc fala que não é bom?
Priscila, azeite de oliva extra virgem, principalmente se não for filtrado, é tudo de bom, desde que você não aqueça em hipótese alguma. Aqui falo mais sobre ele: https://pat.feldman.com.br/2007/04/09/extra-virgem-extra-saudavel/
OI Pat,
Adorei o artigo. Vou seguir suas orientações. E com certeza vou me programar para ir até a Fazenda São José. Ótima ideia. Obrigada!
Pat,
meu casal de gêmeos (agora com 1a7m), comia o que eu colocava no prato até o mês passado … agora resolveram que não querem um monte de coisas, um dia é o brócolis, no outro a couve e por aí vai… algumas vezes chegaram a querer comer só arroz e feijão. Fiquei pensando mesmo que haveria uma razão para eles rejeitarem, principalmente, as coisas verdes e seu post faz todo sentido com isso. Só que eles costumam gostar muito de sopa (tipo caldo e de preferência mais cremoso). Eu acabo fazendo para o jantar, umas 2x na semana e coloco lá tudo o que eles não andam querendo comer nos outros dias… sei que isso mascara o sabor e não oferece a experiência da textura de cada alimento, mas dessa forma eles comem e adoram. Seria errado fazer isso? eu continuo oferendo legumes e carnes, em receitas variadas nos demais dias.
Camila, eu não acho totalmente certo justamente pelas razões que você citou, mas é lógico que é uma alternativa válida se eles aceitam. O que a gente não pode é se acomodar e deixar de oferecer. Dê sempre a sopa que eles gostam, mas umas 2 ou 3 vezes por semana tente dar na comida, talvez bem picadinho e misturado ao resto. Nem precisa ser muito, mas tente!
ah sim. eu continuo tentando todos os dias. A sopa eu dou no máximo 2x na semana. :) continuo acreditando que uma hora eles vão voltar a aceitar. mas essas mudanças deles com o crescimento deixam a gente de cabelo em pé, rs.
PAT, leio suas receitas e acho muito interessante. Minha filha vem passando por um quadro de gripes, tosses, resfriados há dois meses e acho que a alimentação ruim dela tem influência nisso. Moramos em uma cidade do interior de Rondônia e feira de orgânicos aqui não existe, o que tem é uma feira que tem uma barraquinha com alguns produtos orgânicos…no caso de verduras que não são orgânicas, elas não fazem nenhum bem? É melhor comer mesmo não sendo orgânico ou não comer? Existe algum tipo de higienização de frutas e verduras que ameniza as consequencias por não serem orgânicas? E se não encontramos animais criados soltos, o melhor é não comer carne? Obrigada…