Alimentação ARTIGOS

A arte do bem comer

Eu acho que até já reproduzi aqui no site várias das afirmações do escritos Michael Pollan, de quem sou super fã. ele tem uma listinha “básica” de medidas que ele julga importante adotarmos se queremos uma alimentação mais saudável. Eu concordo absolutamente com todas elas.

Hoje, dando uma espiada no site da revista Época, vi essa lista comentada por “especialistas” de um forma totalmente distorcida (pra não usar outro termo…). Me achei no direito de comentar aqui os comentários da revista.

Acompanhem, e não deixem de ler os meus comentários abaixo de cada imagem!!!

Sim, é simples! Muito mais simples do que parece!!
Qualquer coisa em excesso ou qualquer coisa faltando em nossa alimentação fará mal, é claro! Mas dizer que produtos industrializados, cheior de químicas, podem se melhor do que comida de verdade é absurdo! E há o contexto também: quando plantávamos e caçávamos a nossa comida, podíamos nos dar ao luxo de mais de tudo. Nunca ninguém vai me convencer de que alguma coisa processada e desnaturada pode ser melhor do que COMIDA DE VERDADE! Viva a comida da vovó!!
Pode parecer radical, mas na minha opinião o limite saudável para consumo de aditivos químicos é ZERO. Nosso organismo não precisa deles!! E usar a granola como exemplo é até desonesto, afinal trata-se de um produto até bem pouco tempo feito em casa e que realmente, dos industrializados, é dos que menos contém aditivos químicos (se bem que as grandes marcas, muito comerciais…) E na verdade a afirmação original, em inglês, é: “Avoid foods containing ingredients you can’t pronounce.” – “Evite alimentos que contenham ingredientes que você não consiga pronunciar.” Quem come comida de verdade, não precisa de aditivos ou suplementos. Comida de verdade só precisa de aditivos como ervas e condimentos naturais, pra ficar ainda mais gostosa e ainda mais saudável!
Essa declaração não significa comermos só sushi (Japão) ou só moussaka (Grécia) ou só macarrão (Itália), até porque cada cultura alimentar forma-se (ou deveria formar-se) de acordo com o que a produção agropecuária local oferece. Eu vejo essa afirmação muito mais como “Coma tão varidamente como esses povos”, do que “Coma o que eles comem”. A dieta japonesa definitivamente não se resume a sushis e sashimis. A dieta grega não se resume a iogurte. A dieta italiana não se resume a macarrão. Qualquer livro de culinária típica minimamente bem feito mostra a diversidade dessas e de outras culturas alimentares. Especialmente no Brasil, com clima e solo tão propícios, a recomendação de comer muuuuuita variedade é ideal.
Sim, cozinhe, mas COZINHE DE VERDADE! Muita gente confunde o verdadeiro ato/arte de cozinhar com simplesmente abrir muitas latas, caixinhas e saquinhos, misturar numa panela, aquecer no fogão (ou pior), no microondas e servir. Isso não é cozinhar e isso não é saudável! É claro que tradições, culinárias ou não, podem mudar, evoluir, serem criadas, mas o que vemos hoje no mercado não são tradições culinárias, hábitos culinários de verdade, e sim hábitos e tradições criados por uma grande indústria, interessada única e exclusivamente no lucro máximo. Avanços que facilitem o uso de ingredientes frescos e tradiionais sim,m as avanços que modifiquem e criem “alimentos” do nada para mim são SIM motivo de muita desconfiança…
Dizer que é errado evitar “comida” (eu prefiro chamar de produtos alimentícios) anunciada na mídia já é absurdo o suficiente. Quando vemos o autor dessa afirmação – o presidente da Associação Brasileira de Anunciantes – a coisa chega a ficar patética!! Com ele falaria mal do próprio trabalho?? O tal cara, além de ocupar o cargo que ocupa, pesa 145kg!!!! E eu tenho certeza que o prato principal dele não é somente o favorito que ele cita na matéria: fois gras Se ele comesse só o fois gras, ele seria qualquer coisa, menos um homem de 145kg!!
Não precisa ser nenhum gênio da nutrição para saber que quando falamos em lanches comprados na feira estamos falando de frutas, verduras, legumes, nozes e castanhas, queijos e ovos e não dos terríveis pastéis frutos em gorduras totalmente queimadas e oxidadas. E quem quer realmente comer bem deve fugir dos supermercados, onde frutas, verduras, legumes, ovos e carnes, principalmente orgânicas, são muito mais caras do que em feiras livres – isso é verdade em qualquer parte do mundo! Além do motivo financeiro, o supermercado é grande fonte de tentação, principalmente para aqueles que estão começando agora a mudar seus hábitos.
Importantíssimo salientar o consumo de verduras fresca e, de preferência orgânicas. Mas a afirmação para por aí, pelo menos na tradução mostrada pela revista. Em nenhum momento ele diz para comermos menos carnes ou ovos ou outros itens de necessidade comprovada.
Se você quer comer um bolo, faça-o em casa. Mas não pense que é só abrir um caixinha, misturar o pó com leite de caixinha e um monte de açúcar que tudo estará bem. NÃO ESTÁ TUDO BEM!! Se você quer realmente ocmer uma gostosura, a vantagem de prepará-la em casa é justamente poder escolher a dedo todos os ingredientes que serão usados no preparo. Você pode usar farinha integral pré-fermentada ao invés de farinha branca. Pode usar mel ou melado no lugar de açúcar branco e de preferência em menor quantidade. Pode usar extrato natural de baunilha ao invés da versão química, vanilina. Você com certeza terá o cuidado de usar ovos caipiras ao invés de ovos de granja, sem graças, sem gosto e sem nutriente algum. Você usa (no caso do bolo) cacau em pó ao invés de achocolatados cheios de química. Você usa gorduras tradicionais, como manteiga ou óleo de coco, ao invés de óleos altamente refinados e oxidados. Com esses cuidados você pode e deve se deliciar ocasionalmente com suas gostosuras favoritas, afinal saúde de verdade é a combinação do bem estar do corpo, da mente e do espírito, e nada como uma comidinha cheia de gostosuras para tratar bem da nossa alma de vez em quando!!
Evitar açucares em excesso e adoçantes artificiais é uma recomendação muito sábia. A natureza oferece todo o doce que precisamos na forma de frutas maduras. COMIDA DE VERDADE não precisa de rótulo dizendo que faz bem, ela simplesmente faz bem e pronto! Qualquer coisa com um rótulo que diga isso só a faz custar mais caro, e nem sempre a propaganda é assim tão verdadeira…
Nem toda fábrica produz apenas salgadinhos, é verdade, mas todo alimento que passa por uma fábrica é processado demais, leva tempo demais entre sua colheira até chegar ao consumidor final. Isso maltrata e mata o alimento, degenera seus nutrientes. A farinha de trigo do exemplo é clara: processada e refinada ela realmente não contém mais os fitatos, mas também não contém mais vitamina nenhuma, só amido. Daí vem a indústria, adiciona “isso e aquilo”, e caímos num dos itens anteriores: rótulos promovendo benefícios. Existem métodos caseiros super simples para livrar farinhas e grãos dos seus fitatos e essas técnicas são conhecidas a milhares de anos. O absurdo maior: FITATOS são ANTINUTRIENTES, que dificultam a absorção dos nutrientes pelo nosso organismo, não têm nada de benéficos!!!!
Certíssimo, mas eu vou além: não coma cereais matinais que você não tenha prparado pessoalmente em casa. Mesmo aqueles que não mudam a cor do seu leite/iogurte, contém aditivos químicos demais, e você não precisa disso!
Verdade, verdade, verdade! Pelo menos em algum ponto os comentaristas da revista e eu concordamos!!
Verdade de novo! Hoje em dia, pela facilidade de acesso ao alimentos (e aos “pseudo-alimentos”) comemos muito mais do que precisamos ou devemos e o excesso por si só faz mal, muito mal. Não sei em outros países, mas no Brasil além de comermos por tristezas ou angústias, comemos também para celebrar, comemorar, etc. Tudo é desculpa para comer!
Sobre este item eu concordo e discordo ao memso tempo, até por experiência própria. Muitos têm vergonha e comem menos na presença de outros, mas outros tantos (e eu acho que me incluo neste grupo), se distraem em meio a uma boa conversa, alguma bebida e em companhia de outros acabam comendo mais do que precisam ou devem sem perceber. analise como você é e veja se é mais saudável optar por refeições solitárias ou em grupos.
Existem realmente diversos estudos mostrando que quanto maiores os pratos e copos, maiores serão as porções consumidas. Comemos com os olhos também, não se esqueçam! A recomendação de nossos pais e avós de não deixar resto no prato, na minha opinião, é uma das piores heranças!!! Infelizmente aquele resto de comida no prato não vai resolver o problema da fome no mundo, e de quebra cria a possibilidade de um problema de saúde populacional, a obesidade, diabetes e outras doenças associadas aos excessos alimentares. Eu fui criada proibida de deixar resto no prato e até hoje me pego comendo em excesso pra não deixar resto. Grande erro!!!

Imagens: Revista Época

Quem é a Pat FeldmanPat Feldman

Pat Feldman é culinarista, criadora do Projeto Crianças na Cozinha (www.criancasnacozinha.com.br), que visa difundir para o grande público receitas infantis saudáveis, saborosas e livre de industrializados. É também autora do livro de receitas A Dor de Cabeça Morre Pela Boca, escrito em parceria com seu marido, o renomado médico Alexandre Feldman.

25 comentários

  1. Pati, fico bem curiosa em como é um dia inteiro da alimentação da tua casa. Acho tãoooooo difícil fugir totalmente dos industrializados.

  2. Querida Pat,

    me preocupo com o excesso de informação passada de maneira errônea, principalmente em revistas que formam opnião. Sou nutricionista, seguidora de Pollan e acredito que a maneira de se viver bem e com qualidade é voltando a fazer o que nossos antepassados faziam, adaptei minha rotina e hj em dia não dependo mais dos industrializados. Com isso diminuí meu lixo, ajudei as hortas locais, adubei minhas plantas com que sobrou e de quebra ganhei minha saúde… Infelizmente vivemos num mundo de muita resistência em que é difícil aceitar as mudanças.
    Parabéns pelo blog, sou sua leitora assídua
    Bjos

    1. Elogios vindos de uma nutricionista, uma classe que infelizmente se utiliza cada vez mais de produtos alimentícios industrializados em suas recomendações, são sempre muito bem vindos.

  3. oi, Pat.
    Tb o que esperar desse tipo de “pobricação”… Publicações tendenciosas, superficiais em quase todos os assuntos…
    Vc em poucas linhas mostrou uma análise mais aprofundada…
    Bjoks
    Paula

  4. Pat, adorei seus comentários. O burro do jornalista, que não sei onde tirou o diploma, nunca ouviu falar em conflito de interesse… É como perguntar pro açougueiro o que ela acha do veganismo. :-)

  5. Pat,
    infelizmente a maioria dos nutricionistas não cozinham (dãã) e muito menos sabem passar técnicas para os pacientes, por isso que a classe é muito desvalorizda…mas ainda há salvação. Bjos

    1. Eu tenho certeza de que há salvação!!! Desde que comecei a divulgar minhas pesquisas pessoais aqui no site, encontrei excelentes profissionais, que valorizam verdadeiramente a COMIDA DE VERDADE.

      1. Pat, eu até acho que você deveria ajudar a divulgar os nomes dessas boas profissionais – sempre com a autorização delas, é claro. Seriam ótimas parcerias! Por que você não sonda o que as amigas nutris (aquelas que você sabe que seguem essa sua – nossa – linha de pensamento acham?

  6. Pat, gostei muito dos seus comentários, eu tento seguir uma alimentação saudável, e muitas vezes sou criticada até mesmo pela família. (Não dá pra entender né).
    Mas estou aprendendo aos poucos o que é realmente bom, e já me convenci totalmente que açúcar refinado, farinha branca e margarina não fazem falta nenhuma na vida de ninguém.
    Suas dicas me ajudam muito.
    Bjos

  7. Quando li a reportagem, logo me lembrei de vc e tinha certeza que não deixaria passar em branco!
    Por favor, aulas de culinária novamente!!!
    Um beijo
    Milene

  8. Olá Pat,

    Gostei muito dos seus comentários (mais uma vez!). Eu gosto muito do Michael Pollan e de uma forma geral, tudo o que você escreveu, eu subscrevo.

    Esta semana vou publicar alguns artigos sobre mulheres especiais e acredito que inclua este seu artigo na selecção apertada que estou a fazer. Sei que não nada a ver com este assunto, mas como acredito que vá gostar muito, se puder veja o vídeo que publiquei hoje no meu Blog, intitulado: TED – “Isabel Allende conta histórias de paixão.”
    http://joaomarquescarvalho.blogspot.com/2010/04/ted-isabel-allende-conta-historias-de.html

    Abraços saudáveis

  9. Muito interessante!

    Sobre o último item, eu também fui criada pra não deixar comida no prato…sabe o que eu faço, coloco pouco pensando “se eu quiser pego mais depois”. Quase nunca pego e como menos!

  10. Pat, adorei esse post.
    A ideia de evitar (ou a menos reduzir ao maximo) os industrializados pra melhorar a saúde, de tão simples é difícil de ser assimilada.
    Sem contar o sinteresses da industria, claro.
    Tenho poucas certezas na minha vida, mas essa sem duvida é uma delas. Em materia de alimentação procuro me informar, ler, ouvir e então, claro, tomar minhas decisões de acordo com minha consciência. Como em toda área, há ideias controversas, polêmicas, muita coisa que oucço aqui e ali e fico em duvida. mas isso…faz tanto sentido que fica até ridiculo tentar negar.
    Pegando emrpestada a expressão de uma amiga: “vergonha alheia” de quem escreveu essa matéria.
    Beijo
    Renata

  11. Amei seus comentários!
    É incrivel como as pessoas realmente acham que é dificil comer bem sem industrializados. Cada dia que passa eu fico mais pasma com a atitude das pessoas… teve até gente que já tentou me convencer que eu estava errada. Mais lamentável é ver que “especialistas” fazem isso pra quem quiser ouvir. Ainda bem que eu estou salva!!!

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