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Existe Alimento Infantil?

Essa é a importante pergunta que o pessoal do Infância Livre de Consumismo fez essa semana em seu blog e à qual deu uma resposta brilhante, que eu faço questão de divulgar aqui para vocês, porque reflete muito do que eu penso e porque é um movimento que eu quero faz tempo ajudar a divulgar. Eu gosto de prestigiar as boas idéias afinal de contas!

Leiam o texto, reflitam e deixem seus comentários ao final.

Texto de Tais Vinha

O único alimento infantil produzido pela natureza se chama leite materno. Depois do desmame, os pequenos passam a se alimentar com comida comum a todos os humanos. O que muda é o preparo. Legumes amassadinhos, papinhas de fruta, carne desfiada, mingau de cereal.

Em todos os tempos, em todas as culturas, sempre foi assim. Isto é, até chegar na nossa vez.

Os pais e mães de hoje convivem com uma realidade inédita na história humana. A “comida infantil” inventada pelo marketing da indústria alimentícia. Entra em cena um extenso cardápio de “alimentos” anunciados como práticos para a mamãe e mais aceitos pelos pequenos: sopa pronta, nuggets, bisnaguinhas, bolinhos, biscoitos, petit suisse, macarrão instantâneo, leite fermentado, lanches de microondas, sucos e néctares (em pó, concentrado e de caixinha), refrigerantes, preparados à base de leite, cereais matinais, achocolatados, salgadinhos, combos de fast food, embutidos etc. Isso sem falar nas balas, pirulitos e outras guloseimas.

Observe que nenhum desses produtos é invenção da natureza. Todos são criação da indústria alimentícia que calculou, sabidamente, que uma família consumiria mais se tivesse que comprar alimentos diferentes para os adultos e para as crianças. Isso se chama criar nichos de venda, segmentar o mercado consumidor.

A criatividade da publicidade torna tudo ainda mais confuso. Começamos a realmente acreditar que criança tem mesmo que comer comidas mais fofinhas, doces, coloridas, acompanhadas de brinquedos e personagens. E confiamos que essas comidas são seguras para darmos aos nosso filhos.

O problema é que esses alimentos costumam ser pobres nutricionalmente. Enchem barriga, mas não nutrem como deveriam um corpo em desenvolvimento. Pior ainda, atrapalham por serem ricos em aditivos, conservantes, sódio, açúcar, gordura e farinha refinada.

Resumindo, os alimentos que o marketing transformou em comida para criança podem fazer mal aos pequenos. Além de criarem péssimos hábitos alimentares que dificilmente serão abandonados na vida adulta. E hábitos ruins fazem um bem danado para o mercado de comida pronta.

Estudos hoje apontam que esse problema se torna ainda maior nas classes mais pobres. Com o aumento da renda, os pais estão sendo seduzidos pelo doce canto da indústria. E festejam poder colocar na mesa produtos que antes eram exclusividade das classes média e alta. O problema aqui é que não sobra dinheiro para os alimentos que complementam essa dieta pobre. Frutas, legumes, peixes, raízes, grãos e cereais integrais não entram no cardápio. Pesquisadores alertam para uma geração de brasileirinhos obesos e mal nutridos.

Não podemos condená-los. Neste nosso Brasil das diferenças, a publicidade conseguiu transformar comida industrializada em símbolo de status. Comprá-los é poder dar aos filhos tudo “de bom e do melhor”. É não deixar a garotada “passar vontade”. É realizar o sonho de uma vida “prática” e “moderna”.

Comida pronta faz de mim e dos meus filhos alguém de valor. Com diabetes, pressão alta, colesterol, intestino preso e acima do peso. Mas, enquanto estiver dando para comprar o biscoito recheado deles, está tudo bem.

Quem é a Pat FeldmanPat Feldman

Pat Feldman é culinarista, criadora do Projeto Crianças na Cozinha (www.criancasnacozinha.com.br), que visa difundir para o grande público receitas infantis saudáveis, saborosas e livre de industrializados. É também autora do livro de receitas A Dor de Cabeça Morre Pela Boca, escrito em parceria com seu marido, o renomado médico Alexandre Feldman.

16 comentários

  1. O ARTIGO MOSTRA A TRISTE SITUACAO EM TODO O MUNDO. ATÉ NO LONGÍNQUO NEPAL FUI TESTEMUNHA DO CONSUMO DE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS: VOU CONTINUAR LUTANDO PELO CONSUMO DE FRUTAS E LEGUMES FRESCOS PREFERENCIALMENTE REGIONAIS E SASONAIS; CEREAIS INTEGRAIS ETC: TAMBÉM PELA CULTURA DA CULINÁRIA; PELO PRAZER DE COZINHAR; TRANSMITINDO ASSIM AMOR E CARINHO ATRAVÉS DOS ALIMENTOS:

  2. Aqui eu nunca comprei esses alimentos rotulados como infantil, segui como minha mãe fazia conosco( uns 30 anos atrás a propaganda em cima desses produtos não era macisa sem contar que era muito caro), comida do nosso prato, sem comida especial separada batida em mixer ou comprada e tento manter isso até hoje.

    A televisão denuncia muito os produtos alimenticios infantis, que tem mais acucar que um produto equivalente direcionado a um adulto.

  3. Otima leitura!!! concordo com tudo o que foi escrito neste blog. Eu vivo em Lima, Peru e posso considerar que aqui a preocupacao com a alimentacao das criancas é maior do que no Brasil. Eu vejo criancas nas ruas, mesmo as mais humildes comendo quinua, kiwicha, milho natural, sem lata… e fico bem satisfeita!!! sobretudo por esta onda gourmet que tem por aqui, as propagandas sao na maioria das vezes de comidas saudaveis. Tento ensinar a meus filhos o mesmo, muito embora tenha excepciones.. como ir a um restaurente e ter o menu para criancas que é pura porcaria, batatas fritas e um pedaco de frango, na maioria das vezes.
    Em casa tambem nao fazemos comida para as CRIANCAS e sim para a FAMILIA, eu faco e eles aprendem a comer todas as coisas, comem praticamente todas as verduras e o menor é apaixonado por frutas.. mas como tudo nao é perfeito sofro com minha filha que nao gosta muito de frutas!!!!!!!
    Parabens por nos atualizar com temas sempre importantes!!!

  4. Pat, foi isso que aprndi lendo: french kids eat everything. A crianca come o que a familia come e na hora que a familia come. Nos mudamos nosso horario de jantar em casa por isso. Agora jantamos as 18:30, com a pequena. Nao e todo dia uma maravilha de tranquilo. Mas acho que com o tempo as coisas se solidifiacam na cabeca dela…

      1. Eu também tinha esse conceito de tudo limpinho. Até que há alguns anos atrás, numa marca famosa de achocolatado em pó, eu encontrei larva de algum bicho, que não soube qual, nem a empresa me falou. Eles apenas disseram que o lote foi contaminado em alguma etapa do processo.
        Eu mesma abri a embalagem, estava “tudo certo”, lacrado e na validade e tal. Quando puxei o lacre que abre de vez o produto, lá estavam elas penduradinhas no lacre!
        Recolheram o produto, “confirmaram” o problema e me ligaram se desculpando. Simples assim para eles.

        1. E não é que “é tudo limpinho” mesmo, tem até produto de limpeza!
          A coisa tá feia mesmo. Fora não fazer bem na questão de nutrição, ainda tem cada problema com produtos industrializados!
          E esse produto é dado para crianças muito pequenas, e tido como saudável e nutritivo. Imagina as que não sabem “pedir socorro”!!!! O produto causa queimaduras! E só pode queimar dentro da criança/pessoa que é para onde o suco vai!
          É muito sério isso!

          http://oglobo.globo.com/defesa-do-consumidor/unilever-anuncia-recall-do-suco-ades-maca-devido-risco-de-queimadura-7834313

  5. […] servimos o que há de mais pobre em termos de alimento nas festas infantis, nos lanchinhos, enfim, existe uma indústria de lixo alimentício considerado próprio para as crianças, e incentivados por todos que a cercam. More Circulô […]

  6. Pat,
    há muito tempo acompanho seu blog, pois gosto de cozinhar e pegar diversas dicas/receitas,
    mas nunca cheguei a comentar. Porém neste ‘post’ resolvi opinar.

    Eu concordo em partes com essa discussão…

    Com certeza alimentos naturais e preparados de maneira ‘caseira’ e correta são mais saudáveis.
    Porém, atribuir essa ‘cegueira mental’ sobre alimentação industrial aos publicitários é no
    mínimo inconsequencia, afinal cabe aos país/escola o papel de educação e não a TV ou comerciais.

    1. Acho que essa discussão tem muitos “ingredientes” que precisam ser considerados.
      O volume de propaganda direcionado ao público infanto-juvenil é gigantesco. A criança não tem capacidade de decidir o que é melhor para ela.
      O documentário Criança a Alma do Negócio traz “ingredientes” a essa discussão, que vai além da questão dos alimentos.
      E o documentário Muito Além do Peso traz “ingredientes” para a discussão da questão da obesidade X propaganda.
      Acho que essa discussão pela sociedade é bem saudável. As crianças vão ter muito a ganhar.

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