Alimentação ARTIGOS

Comer ou passear?

Há vários anos atrás, quando nem tinha filhos ainda, uma amiga norte-americana veio passar uns dias conosco em São Paulo e como gosto de receber bem, junto com meu marido, pensamos em mil programas para fazer juntos: passeios no parque, teatros, praia e tivemos até uma ida a Brasília, por ocasião do lançamento de um livro do meu marido.

Acompanhando a visita ao parque, um gostoso café da manhã ali perto. Acompanhando o cinema, uma pipoca, depois do teatro ou concerto de música, um jantar num lugar bem charmoso. No sábado um almoço demorado. No domingo a noite uma pizza. E assim foi… Muitos restaurantes passeios!!

Ela gostou de tudo, mas me chamou atenção para uma coisa que eu não tinha notado: todo programa acompanhava comida. Café da manhã, lanchinho, almoço, jantar, petisco… Emfim, tudo era desculpa para comer!! Eu não tive como discordar dela, e isso nunca mais me saiu da cabeça: todo programa que fazemos (nós querendo falar de todos nós, ou pelo menos a maioria de nós) inclui comida.

Semana passada levei meu filho para passear no Espaço Catavento, aqui em São Paulo. Uma maravilha de passeio, que ele só não aproveitou mais porque não tem idade para entender algumas coisas mostradas lá. Chegamos, passeamos, aproveitamos a enorme área ao ar livre e fomos embora, sem passar por lanchonete alguma, que para muitos outros foi a melhor parte do passeio.

Hoje levei meu filho ao Teatro Folha, para aproveitarmos o festival de férias, que apresenta peças infantis variadas. A peça de hoje, A Lenda de João e Maria até que foi divertida, mas nada de especial. Som extremamente alto, e isso deixou meu filho bem bravo e o bebê um pouco assustado.

Mas o que me chocou realmente na sala do teatro foi a quantidade escandalosa de comida que as crianças seguravam. (e comiam!) Crianças bem novinhas com sacos de pipoca quase do tamanho delas (juro, não é exagero!!!!), refrigerantes e, para a sobremesa tinham balas e chocolates. E tudo isso para uma única horinha de espetáculo!!! Tudo isso para uma hora em que a criança poderia simplesmente prestar atenção ao que está assistindo, não ao que está comendo.

Enxergo muitos problemas nesse tipo de atitude:

  • Crianças comendo porcarias em excesso
  • Crianças comendo fora de hora em excesso
  • Crianças que não sabem apreciar o espetáculo a que estão assistindo

Os dois primeiros itens afetam diretamente a saúde dessas crianças, de hoje até o resto de suas vidas. comer em excesso, comer porcarias e comer fora de hora é a receita perfeita para não ter saúde!

O terceiro item, na minha opinião, cria adultos menos interessados em cultura, cria um péssimo espectador, que não sabe prestar atenção ao que assiste. Eu frequento muito a Sala São Paulo e vejo/escuto gente que dorme durante os melhores concertos, conversa (e pensa que fala baixinho) e atrapalha o resto dos espectadores, esquece o celular ligado, mesmo com os mil avisos, e tossem, tossem muuuuuuuuito, em pausas que deveriam ser mágicas em certas músicas

Meu filho, por iniciativa própria, antes de sair de casa colocou uvas num potinho e pediu que eu levasse na bolsa. Chegando ao teatro ele viu pipoca e pediu. Ele gosta muito de pipocas e ocasionalmente, num programinha gostoso de férias, não vejo nada de errado em deixá-lo comer – é ocasional MESMO, e ele (diferente de como eu fui a vida inteira) não associa passeios em geral com comidas. Comprei um saco pequeno, o menorzinho que tinha e que continha pipoca mais do que suficiente para nós dois. Ele beliscou um pouco, tomou ÁGUA e se divertiu bastante! Depois que enjoou da pipoca (lá pela metade do humilde menor pacote), pediu as uvas, que é o que ele gosta mais ainda.

O meu desafio nesse artigo é para que você pense em programas que não incluam comida. Eu penso nisso loucamente desde que a minha amiga norte-americana fez a sua observação. Muitos programas meus continuam incluindo comida, porque eu me habituei assim, porque eu adoro comer e porque, realmente, é em volta da mesa que damos boas risadas e passamos ótimos momentos. Mas eu realmente também gostaria de segurar a comida em certos passeios em que ela é totalmente desnecessária.

Um visita ao parque não precisa ter pic-nic, mas pode ter um passeio de bicicleta, uma corrida, mil brincadeiras no parquinho, jogos de bola e simples momentos deitados na grama, olhando o céu, brincando com o formato das nuvens e relaxando. Vale o mesmo para quando você for a praia, com a vantagem de que na praia você ainda pode se refrescar e se divertir muitíssimo com um delicioso banho de mar!

A visita ao museu incita a criança a pensar, descobrir, perguntar. Pode despertar curiosidades e pode inclusive TE fazer aprender muito, quando você precisa pesquisar respostas para as perguntas que seu filho vai fazer.

E o teatro, é claro, serve para a criança assistir a uma história, e não para comer!!!

E veja bem, programas que incluem comida são uma delícia, eu nunca vou dizer o contrário!!!! Cozinhar em casa é uma delícia, sair pra comer fora num bom restaurante ou numa simples lanchonete é uma delícia, um pic nic também é uma delícia, mas o desafio é achar programas além da comida!!!

Quem é a Pat FeldmanPat Feldman

Pat Feldman é culinarista, criadora do Projeto Crianças na Cozinha (www.criancasnacozinha.com.br), que visa difundir para o grande público receitas infantis saudáveis, saborosas e livre de industrializados. É também autora do livro de receitas A Dor de Cabeça Morre Pela Boca, escrito em parceria com seu marido, o renomado médico Alexandre Feldman.

21 comentários

  1. Eu já pensei sobre isso também. Não acostumei Luisa a porcarias. Ela está com 5 anos e, dentro do que posso, ela tem uma boa alimentação. Orgânicos (aqui até o café é orgânico), coisas sem gordura, comida leve. Infelizmente, ele ainda não curte biscoitos caseiros, mas pelo menos eu procuro optar pelos mais simples (como cracker e maizena), quando não tem jeito. Lanche pra ela, em geral, é fruta ou iogurte. Refrigerante? Ela não sabe nem que gosto tem! É louca por suco de laranja e água de coco. Come poucos (poucos MESMO) doces, não é muito chegada em chocolate e, apesar de gostar, não liga muito pra salgadinhos e etc.

    Nos passeios, esse costume alimentar que eu coloquei nela se reflete. Ela não é de pedir pra comer bobagens, adora um teatrinho quando rola, também cineminha, parquinhos. Passeios de brincar, são de brincar. Raramente ela pede lanche, porque costuma fazer antes de sair ou quando chega. Mas pede sempre muita água. Quando vamos a um passeio especificamente de comer, ela acaba pedindo o “prato preferido dela”: arroz, carne e batata frita (a batata aqui é item de ocasiões especiais, controlada rigorosamente, porque odeio frituras…).

    Resumo: acho muito bacana sua iniciativa de incentivar outras mães a fazerem passeios mais interativos com a criançada e a optar por comidas mais saudáveis. Sou 100% a favor! Adoro seu site.

    Beijos!

  2. Gostei muito deste post, pois vejo muitos pais que além de tudo oq vc disse, dão comida para os filhos ficarem quietos.
    Educar é difícil, precisa de amor, dedicação e muito empenho.
    bjs

    1. MUITOS PAIS DÃO COMIDA PARA SEUS FILHOS FICAREM QUIETOS!!!!!! Quanta verdade na sua afirmação, Katia!! Uma triste verdade….

  3. Muito bom e pertinente esse texto, Pat! Nunca tinha percebido isso, mas todos os meus passeios também são de comer. Mesmo uma ida ao shopping para comprar um item ou um presente, tem sempre que rolar um sorvete, uma coisinha qualquer.

  4. Quando meu filho era pequeno eu também reparei nisso. Eu ia para a praça sem nada e chegava lá as outras mães tinham bolacha e ele pedia. Íamos ao pediatra e as outras mães davam salgadinhos enquanto seus filhos esperavam a consulta. Parece que logo cedo ensinamos nossos filhos a aliviar qualquer tensão/frustração com comida.
    Com relação aos passeios, acho que tem um lado que é o de vc conversar sobre o programa que fez enquanto come, mas talvez a gente (brasileiros) exagere mesmo.

  5. Moro em Teresópolis (RJ) e nas férias de julho passado estive em SP com meus tres filhos (1, 9 e 14 anos). Fizemos muitos programas legais quase nunca tendo a comida como rainha da festa! Como diz uma escritora que adoro, comer pra viver e não viver pra comer!
    Fiquei impressionada com a oportunidade de eventos legais que a cidade oferece!
    Também visitamos o espaço catavento, recomendo, e também nada de lanchinhos… Também fui ao teatro folha e lá me impressionei com duas coisas, uma os “lanchinhos”, e outra, a quantidade de babás! Nossa! Mesmo os pais que foram ao teatro iam com babás! As vezes mais de uma! Isso pra mim é bem difícil de entender…Mas é um outro assunto…

    1. Ah, as babás…. Outra distorção absurda na criação “moderna” dos filhos…. Mas realmente isso é assunto para outro artigo!

  6. Pat, que dica valiosa!!!! Sabe que depois que li seu texto, fazendo uma reflexao me dei conta que estou no mesmo caminho, nao com tantos excessos pois meu filho tem uma alimentacao dita saudavel, porem o alimento esta sempre presente nos nossos passeios. Obrigada!!!!

    Oportunamente, deixa te perguntar uma coisa, meu filho tem 3 aninhos e sou nova em SP, vc poderia me dar algumas dicas de passeio para o periodo de ferias!!!!

    Desde ja obrigada e feliz 2011!!!

    1. Adriana, eu também caio muito na amrmadilha da dobradinha passeio-comida, afinal fui criada assim. Mas tenho me policiado para melhorar e pelo que ando vendo em volta, estou infinitamente melhor do que a maioria!
      Quanto a dicas de passeios, aí vão alguns que conheço e outros que não conheço mas estão na minha listinha:
      – Parque do Ibirapuera
      – Parque da Água Branca (que agora está meio confuso por conta de uma reforma que nunca acaba, mas vale mesmo assim)
      – Zoologico
      – Museu da Língua Portuguesa
      – Espaço Cultural Catavento
      – Mueu do Ipiranga (tem uma área externa bem agradável também, pelo que me lembro)

      Queridas leitoras, se alguém tiver mais dicas de passeios, vamos todos adorar!!!

  7. Olá Pat!
    Infelizmente a maioria das pessoas quando vão sair já levam dinheiro pensando no que vão comer.
    Eu procuro levar frutas pra praia e água gelada.
    Não vou ao supermercado sem tomar café antes,pois sei que diante de tantas guloseimas é difícil resistir de barriga vazia.
    Beijos!

  8. Pat, também criei meus filhos assim, se fosse hoje pensaria melhor no que oferecer para as crianças, porque minha filha não gostava de doces, inclusive chocolate, e quando tive o segundo filho que é doceiro como eu, ela aprendeu, mas mesmo assim, hoje eu aprendo com eles ainda o que é bom para nós, acho que nunca é tarde para aprender e mudar hábitos é muito difícil, mas tento sempre da melhor forma possível. Aqui perto de casa tem um parque muito grande, bom para caminhar e tomar uma água de côco, mas infelizmente, quando vou tomar a água de côco, vejo tantas crianças tomando coca-cola e o mais engraçado é que os pais tomam água de côco. Seu site precisa ser bastante divulgado.

  9. Pat, obrigada pelas dicas de passeio!
    Agora so falta a chuva parar, que está um horror en!!!

    Bjnhos

  10. Antes de mais nada, um Feliz 2011 a você Pat, à sua família e a todos os que buscam por conhecimento!!

    Nem de propósito. Acabei de tropeçar num blogue de uma americana que também dá primazia a orgânicos (http://www.thehealthyhomeeconomist.com/2010/10/video-healthy-homemade-ice-cream/) mas ela me deixou a pensar com este comentário:

    http://www.thehealthyhomeeconomist.com/2010/07/what-white-rice-better-than-brown/

    A sua vida deve ser muito ocupada Pat mas gostaria de saber a sua opinião em relação a este blogue e a este comentário.

    Um abraço e tudo de bom :)

  11. Passeio para crianças de menos de 3 anos é tão difícil.. sou prof. de Ed. Infantil e o lugar que eu mais gostei para crianças dessa idade é o “Cia dos Bichos” – muitos animais, as crianças podem tocar, carregar, acariciá-los e monitores excelentes. http://www.ciadosbichos.com.br/

    O Aquário de São Paulo é legal mas também é escuro…. Se vc conseguir ir em um dia sossegado é ótimo, mas com aquilo lotado é terrível para as crianças.

    Soube que existe um borboletário em Osasco, mas nunca fui.

    Se lembrar de mais posto aqui.

    Ah.. ótimo artigo!

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